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terça-feira, 11 de março de 2014

Utopia como meta e gestão participativa como caminho.

O que é Utopia?

Segundo o portal dos significados, Utopia é a ideia de civilização ideal, fantástica, imaginária, referindo-se a uma cidade ou um mundo porém em outro paralelo. Utopia vem de radicais gregos e significa "lugar que não existe".  Utopia foi um termo inventado por Thomas More, um escritor inglês e humanista, que ficou impressionado que Américo Vespúcio contou sobre a ilha de Fernando de Noronha, que foi avistada pelos europeus em 1503. More falou que nessa mesma ilha ele poderia construir uma civilização perfeita.

Para Thomas More, utopia era uma sociedade organizada de forma racional, as casas e bens seriam de todos e não de indivíduos, as pessoas passariam seu tempo livre envolvidos com leitura e arte, não seriam enviados para a guerra, a não ser em situações extremas, assim, esta sociedade viveria em paz e em plena harmonia de interesses.

Utopia pode ser considerada também não apenas a ideia de idealizar um lugar ou uma vida em uma visão fantasiosa, pode ser também um modo otimista de ver o mundo e ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem. Existem também outros tipos de utopias, como a econômica, a religiosa, a de políticos e a de ambientalistas. (http://www.significados.com.br/utopia/)

É normal e aceitável que bons administradores idealizem utopias para promover o bem em sua forma de gerenciar. Contudo, utopias são inalcançáveis, e devem servir apenas como parâmetro de objetivo a ser perseguido, um norte para se chegar a algum lugar almejado.

Para perseguir uma utopia há que se ter em mente que ela é inatingível, não se realiza, serve apenas como forma de traçar um objetivo – que obviamente não será alcançado. É um direcionador de ações, onde parte do caminho já seria o propósito final. Se negarmos essa condição, passamos a enfrentar as derrotas naturais da própria diversidade de cultura e os mais variados pensamentos existentes na humanidade não como necessidade de reajuste de ações, mas como impeditivos de realizações.

Certos governantes veem na sua utopia particular um dogma a ser aplicado de forma inquestionável – ela tem que ser realizada a qualquer custo! Ao pensar assim cometem grave erro. Por ser algo impossível de se alcançar, quando os resultados não são aqueles desejados, em meio à teimosia e cegueira, passam a criar inimigos – reais e imaginários - para poder colocar a culpa pelo insucesso.

Em uma guerra, a primeira a morrer é a Verdade. Então, se vendo em estado de guerra com seus supostos inimigos, mata-se a verdade. Parte-se para a aceitação do discurso de que os fins justificam os meios, se aceita passar por cima de valores, relativizando situações e circunstancias as quais não poderiam ser interpretadas senão pelo lado da moral e da ética. Com isso, o gestor fecha-se em círculos cada vez menores, passando a se distanciar – e até ignorar – potenciais qualidades de outros grupos ou pessoas que, de possíveis parceiros, passam a receber o conceito de “obstáculos”.

“Na utopia, a liberdade, a igualdade e a fraternidade são totais. Exatamente o contrário do que sucede na vida real, na vida dos homens, permanentemente divididos entre valores rivais, incompatíveis, incomensuráveis”. (João Pereira Coutinho)

O pensamento utópico necessita de que as pessoas sejam uniformes. Isso não é a realidade. Pessoas são livres, possuem culturas e crenças diversas. Cada qual tem sua base de conhecimento. Nunca uma poderá ser igual à outra. É preciso aprender a conviver com os antagonismos de idéias e aproveitá-las a seu favor, não repudiá-las.

A transparência e a tolerância deveriam ser a baliza de todas as ações. Não é o que se vê nos dias de hoje em meio aos protestos ocorridos contra governos pelo mundo, em especial ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela. A morte da verdade também já começou a ocorrer no litígio entre Ucrânia e Rússia – cada qual vai justificar uma história diferente para fazer valer seus interesses. O primeiro caso retro mencionado é exemplo de isolamento, radicalismo e teimosia mesmo diante de um quadro de fracasso; o segundo, da luta por territórios estratégicos na expansão do poderio militar.

Um governo não deveria se utilizar de engôdos ou justificativas para fazer parecer que atua em uma boa gestão. Errar também faz parte do processo de construção. Admitir o erro é mais difícil, mas deveria acontecer a cada falha cometida. Na contramão disso vem a morte da verdade, a justificativa demasiada, a propaganda enganosa, a procura por culpados.

Tenho medo de governos que querem “promover o bem do povo” somente a partir do seu referencial de bondade, sem ouvir a vontade da outra parte. Fica parecendo que esse governo é o detentor do monopólio das virtudes, que só ele sabe o que é bom para seus administrados. Fica parecendo que o povo não sabe fazer escolhas, que o povo não sabe o que é bom para si. Tenho medo de governos que querem controlar o que eu devo ler, ouvir, assistir, comer, beber, fazer, enfim, a forma como eu devo viver. Por que razão uma pessoa que é como eu, e que diferente de mim está ocupando cargo no governo, saberia melhor do que eu, o que é melhor para mim?

Governantes precisam entender que a comunicação e a informação nos dias de hoje são ferramentas acessíveis em quase todos os níveis. Com a infinidade de veículos virtuais disponíveis para cada pessoa, uma mentira não se sustenta mais como antigamente. Não adianta mais “comprar” com anúncios governamentais as emissoras de televisão e os jornais. Há que se mostrar as coisas com clareza. Há que se compor acordos com grupos antagônicos, entender as diferenças, procurar o meio termo e compartilhar os espaços na gestão até mesmo com os que se acreditam ser os opositores.

É no debate que se encontram soluções para muitos dos problemas. É enfrentando resistências que se abre caminho para o crescimento e o fortalecimento.

Tivemos um exemplo importante de fortalecimento do diálogo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, onde jamais vi pessoa como ele com tanta habilidade para promover composição de grupos antagônicos, promovendo acordos, costurando uma rede de apoios, trazendo grande parte da oposição para o seu lado – para sua causa; promovendo a gestão compartilhada e participativa, dividindo os espaços no seu governo e fazendo uma boa administração. O prefeito de São Paulo, que é do PT, ao que parece, também já começou a pensar assim, e convidou um ex-integrante do PSDB, hoje PV, para ser o seu Secretário de Subprefeituras. No meu entendimento, agiu assim por questão de necessidade de se fazer uma boa gestão, prestigiou um técnico no lugar de um político.

O que se aplica ao macro também se aplica ao micro, portanto, fica como dica de exemplo a ser seguido para quem detém sob sua administração um país, um estado, um município, ou até mesmo uma simples unidade administrativa integrante de um órgão estatal. Persigam uma utopia como meta em sua administração, façam um governo de composição, uma gestão participativa, e alcancem o sucesso.