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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Eu não patrocino o esporte

Certa vez veio até mim um amigo pedir patrocínio para participar de competições com corridas de bicicletas.

Iniciei com esse amigo um debate.

Perguntei: Se eu entendi bem, você quer que com o dinheiro do meu trabalho eu custeie suas atividades esportivas? Ele respondeu que sim.

Perguntei: Isso quer dizer que enquanto eu trabalho sentado em uma mesa, ou em pé, durante oito ou nove horas, você ficará praticando atividades físicas, condicionando o seu físico, se alimentando com as melhores proteínas e vitaminas existentes no mercado e cuidando da sua saúde melhor que eu posso cuidar da minha? Ele respondeu que era mais ou menos isso, mas que não era bem assim... (?)

Perguntei novamente: E o que eu ganho em troca de lhe proporcionar uma vida exclusiva de treinamento e, digamos, enquanto a minha continuará sedentária? Ele respondeu que eu teria minha recompensa com um possível título, um troféu ou uma medalha que ele viesse a ganhar.

Eu ainda lhe disse que empresas que promovem o esporte sempre esperam, em última instância, um retorno financeiro advindo da propaganda que o atleta fez da sua marca, e as conseqüentes vendas. Ele alegou que o título, a medalha, teria um valor simbólico, e que ele poderia se tornar um grande atleta muito famoso.

Eu respondi que no momento não estou podendo me dar ao luxo de viver para coisas simbólicas. Que me alimento de comida, que durmo em uma cama, que moro em uma casa, que me visto de roupas, que me banho com água e sabão, que tudo isso tem um custo na minha vida, e que um título de campeão ou uma medalha não pagariam as minhas contas, mas, quando muito, as dele.

Já vimos muitos fanáticos pelo mundo idolatrando e patrocinando atletas que jamais viram de perto. O atleta enriquece, fica famoso, ganha condicionamento físico, saúde, e a nossa vida continua sempre igual ou, em alguns casos de fanatismo, pior. O mesmo serve para times, seleções e clubes.

Há uma propaganda apelativa focada na colonização de nossas mentes visando nos tornar idólatras, fanáticos financiadores do comércio esportivo.

O esporte de competição também se tornou um consumismo. Quem aqui se lembra quem foi o campeão do ano passado? E do retrasado? O título, uma medalha, até o atleta, para mim é uma coisa virtual. Não faz parte da minha realidade. Pode até trazer uma falsa alegria para alguns, volátil, efêmera, mas não traz nada de útil para a realidade.

Eu não tenho que custear isso!

Certa vez eu vi uma postagem em rede social de um grande e respeitado amigo do trabalho, na qual ele chamava os Estados Unidos de Império (Capitalista) e cultuava Cuba, talvez pelo regime de governo, mostrando até uma inclinação um pouco esquerdista – até ai nada de errado. No entanto esse meu amigo se veste com o uniforme, com a marca do seu “time do coração” dos pés à cabeça, de segunda a segunda. Vai ao estádio, viaja para acompanhar o time e até faz parte do clube. E o engraçado é que as grandes marcas que patrocinam aquele time quase todas são americanas. Só posso concluir então, que ele patrocina o tal do “Império”.

No futebol, por exemplo, ganha o jogador, ganha o treinador, ganha o clube, ganha a emissora de televisão, ganha a marca que financiou o time; ganham os jornais que, em suas quase quarenta páginas, vinte são dedicadas ao “esporte”, cinco dedicadas às mazelas da política, e as quinze restantes ao sensacionalismo que brotas das catástrofes e da violência que aumenta a cada dia.

E o patrocinador final, ou seja, nós, o que ganhamos? Um troféu para ser visto de longe ou em uma tela de televisão? O direito de fazer piadas e contar vantagens sobre os virtuais adversários pelo período máximo de um ano?  Não quero aqui nem entrar no mérito das brigas de torcida. Um verdadeiro espetáculo de violência para fomentar o fundamentalismo esportivo!

O apelo é tão forte que criam ídolos, heróis, mitos, “reis”, os quais, depois, vêm fortalecer o time dos colonizadores do nosso pensamento consumista – olhem a propaganda de convencimento que um tal de Pelé está fazendo da Copa!!!

Quando eu ligo a televisão aberta no domingo é deprimente. Cada emissora tem um programa voltado para o fortalecimento do fanatismo do esporte. Criam mesas de debate para filosofar sobre o passado, os lances imperdíveis; falar do que teria acontecido se aquela bola não tivesse desviado da barreira, se o fulano tivesse acertado o chute; falam dos milionários salários dos profissionais da área (nessa hora eu posso comparar o expectador ao “leitor” - leitor? - que se deslumbra com as fotos da revista “Caras”). Também aqui não vou entrar no mérito da possibilidade de que os resultados sejam forjados, nem especular as manipulações que ocorrem para garantir evidência aos times que trazem maior rentabilidade.

A propaganda, o apelo, é muito forte! Quando menos se espera caímos na armadilha. Seja diretamente, comprando o ingresso, seja indiretamente, comprando os produtos ou simplesmente gerando audiência ao ligar a televisão. Eu evito comprar roupas ou tênis de marcas que patrocinam esportes. O mesmo serve para objetos que levam o logo do time na sua imagem. Acho que só não dá para ficar sem a cerveja (risos)!

A ilusão que o comércio esportivo causa é tão grande que eu já vi pessoas sedentárias, obesas (nada contra obesos) que batem no peito dizendo “eu gosto de esporte” ou “eu sou do esporte”, enquanto que a única atividade esportiva que praticam é a de apertar o botão do controle remoto da televisão, enquanto passam os domingos esparramados no sofá (vamos fazer justiça vai: tem até uma segunda modalidade esportiva que esse sedentário pratica, que é a modalidade “postar no facebook glórias ao seu time quando vence e fazer piadas com os adversários”; ou ainda “reclamar do técnico, sair em defesa do clube quando da derrota, lembrando todos os títulos que já foram conquistados desde a criação do mundo”).

Então, fica a pergunta: O esporte é ruim? Eu mesmo respondo! Não. O esporte é bom.

O problema é que o verdadeiro significado do esporte se perdeu há muito tempo!!!

Eu até sou a favor do esporte, mas desde que não seja uma ação voltada para competição e nem para o comércio. Temos que praticar esporte sim, para ganhar condicionamento físico, saúde, lazer, recreação, socialização. Gosto do futebol para unir amigos, brincar um pouco, fazer um churrasco, comemorar etc. Mas, a partir do momento que alguém surge se postando como gestor daquela atividade, fala em montar um campeonato, pede uma ajuda para comprar medalhas, uniformes, e outras despesas, ai eu caio fora, to fora, porque surgiu ai o princípio da degeneração da atividade esportiva.

Nesse caso, ainda que possa gerar algum custo, praticar o esporte de forma simples não é despesa, mas investimento. Investimento em nós mesmo. Em se tratando de esporte, não invisto no outro, invisto em mim e em minha família.

Minha filha pratica natação. Certa vez o instrutor sugeriu inscrevê-la em competições. Achei melhor não. Poderia sim inscrever, até com o escopo de instigá-la a vencer seus próprios limites, mas o valor que me cobraram para isso talvez não compensasse o retorno almejado, que não era a gloria ou o pódio, mas a superação de “si mesma”. Optei por ela continuar a treinar, mas não incentivei a competição.

O mundo é competitivo? Sim. Mas entendo que a competição no esporte não nos prepara para a competição do mercado. Trabalhar e estudar sim. Deixemos então o esporte na categoria saúde, lazer e recreação

Seria eu um reacionário ao pregar a existência da simples pratica esportiva no lugar do culto ao esporte? Acho que não!

Bom meus amigos leitores, esse assunto vai longe... acho que já falei o bastante para um texto, para um blog... que venham agora as criticas ao meu pensamento... rssss.